Qual é o perfil da empreendedora brasileira?
O perfil da empreendedora brasileira é de uma mulher de cerca de 40 anos, mãe de um filho, casada, com formação superior completa, sonhadora, com experiência no mundo corporativo, satisfeita com o sucesso conseguido com o seu negócio, ou na busca dele, dona de uma empresa no setor de serviços, que apresenta problemas com planejamento financeiro, participa de muitos eventos de capacitação e networking, e é acima de tudo, otimista.
Esta é a representação da mulher de negócios no Brasil, delineado na pesquisa anual para levantamento e aprofundamento do empreendedorismo feminino no Brasil, realizada pela Rede Mulher Empreendedora.
Apesar das mulheres formarem mais da metade da população brasileira, 51,5% da população total, segundo o último censo do IBGE datado de 2010, a realidade brasileira demonstra que seus desafios e dificuldades perpassam muitos outros níveis, não tendo a mesma representatividade no encabeçamento, ocupação e gestão de segmentos significativos da economia como tecnologia e inovação.
Neste sentido, a Pesquisa da Associação Brasileira de Startups (ABStartups) aponta que 74% das equipes de startups são formadas por homens e quase 90% das empresas de inovação e base tecnológica são comandadas por eles.
O impacto das disparidades de gênero
As disparidades de gênero, reflexo aqui no encabeçamento dos novos modelos de negócios e grandes empresas, são extensões dos desafios que perpassam muitos outros setores, enfrentados diariamente pelas mulheres.
As extensas jornadas de trabalho da mulher, com expedientes em emprego formal, cuidados com a casa, muitas vezes não dividida de forma equivalente com xs parceirxs e o cuidado e acompanhamento para com os filhos; são os principais fatores que influenciam o baixo investimento de tempo e estudos em seus próprios negócios.
O sexismo, o machismo e a misoginia
Além disso, as mulheres empreendedoras precisam ainda enfrentar questões como o sexismo; discriminação baseada em estereótipos de gênero que pelos padrões de cultura fundamentados na sociedade patriarcal afetam principalmente as mulheres; o machismo enquanto o conjunto de crenças que práticas sociais, condutas e atitudes que promovem a negação da mulher considerada por natureza sujeito inferior; potencializada pela misoginia, que é o ódio ou aversão ao gênero feminino tendo sua manifestação mais evidente na violência machista, mas expressa de diversas formas mais sutis, e não menos nocivas, como como discriminação, objetificação, humilhação e marginalização da mulher.
Estes são outros pontos enfrentados que reforçam diariamente a ideia hegemônica que empreendedorismo, por se tratar de eixo que alinha técnica e gestão e administração de negócios não são espaços para mulheres, sendo estas mais “aptas” a ocuparem áreas feminizadas, histórica e socialmente, e mais desvalorizadas socioeconomicamente ao longo dos anos.
Investimento em projetos liderados por mulheres
Vale ressaltar ainda, que mesmo superando os desafios anteriores mencionados, o acesso e oportunidades de investimento em negócios liderados por homens e mulheres acontecem ainda de forma desigual.
E o desestimulo contínuo a cargos de liderança e chefia dentro do setor empresarial e corporativo são ainda outras barreiras para o desenvolvimento do empreendedorismo feminino no país.
O universo do empreendorismo feminino
Neste cenário de desafios, têm crescido o número de iniciativas que visam a criação de uma rede de colaboração e networking feminino, com o intuito de criar oportunidades de contatos e geração de novos negócios entre diversas mulheres; fortalecendo o ecossistema feminino empreendedor no Brasil e ocupando, de fato, os espaços de criação, liderança, chefia e comando nos negócios, principalmente formado por equipes mistas, onde a própria empreendedora não é dona do empreendimento.
Segundo o SEBRAE, em pesquisa realizada com a Global Entrepreneurship Monitor (GEM) e o Anuário do Trabalho nos Pequenos Negócios (2017); as mulheres representam 24 milhões de empreendedoras no Brasil, número pouco inferior ao universo masculino, que é de 25,4 milhões. No entanto, entre os pequenos negócios iniciados nos últimos três anos e meio, elas já lideram o ranking, com 14,2 milhões em relação aos homens, que somam 13,3 milhões. O dado adverso é que elas continuam com remuneração menor que os homens, apesar de serem mais escolarizadas e os níveis de estruturação de negócios, planejamento e sustentabilidade são aquém das iniciativas masculinas, exatamente pela série de desafios mencionados anteriormente. Já avaliando o crescimento do número de startups do Brasil nos últimos anos, o dado que tem chamado bastante atenção é a qualidade da presença de lideranças femininas no setor. Apesar das empreendedoras representarem pouco mais de 10% das CEO’s das startups, seus empreendimentos têm gerado mais impacto significativo em alguns segmentos da economia.